quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Monólogo Mundo Moderno



E vamos falar do mundo, mundo moderno
marco malévolo
mesclando mentiras
modificando maneiras
mascarando maracutaias
majestoso manicômio
meu monólogo mostra
mentiras, mazelas, misérias, massacres
miscigenação
morticínio, maior maldade mundial
madrugada, matuto magro, macrocéfalo
mastiga média morna
monta matumbo malhado
munindo machado, martelo
mochila murcha
margeia mata maior
manhazinha move moinho
moendo macaxeira
mandioca
meio-dia mata marreco
manjar melhorzinho
meia-noite mima mulherzinha mimosa
maria morena
momento maravilha
motivação mútoa
mas monocórdia mesmice
muitos migram
mastilentos
maltrapilhos
morarão modestamente
malocas metropolitanas
mocambos miseráveis
menos moral
menos mantimentos
mais menosprezo
metade morre
mundo maligno
misturando mendigos maltratados
menores metralhados
militares mandões
meretrizes marafonas
mocinhas, meras meninas,
mariposas
mortificando-se moralmente
modestas moças maculadas
mercenárias mulheres marcadas
mundo medíocre
milionários montam mansões magníficas
melhor mármore
mobília mirabolante
máxima megalomania
mordomo, mercedez, motorista, mãos
magnatas manobrando milhões
mas maioria morre minguando!
moradia meiágua, menos, marquise
mundo maluco
máquina mortífera
mundo moderno melhore
melhore mais
melhore muito
melhore mesmo
merecemos
maldito mundo moderno
mundinho merda!
Chico Anysio

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Segredo

O segredo do mistério é a dúvida, mas o mistério do segredo é o tempo.
O tempo... o tempo...
Tempo!
Vou te contar um segredo:
O tempo do segredo é teu.

domingo, 13 de dezembro de 2009

A tentativa de Ser

Ser menos,
mas não ser
pouco.
Ser mais,
mas não ser
Muito.

Ser.
Natural... espontâneo... involuntário...

Ainda falta ser para concluir o pensamento!
Onde está o pouco do muito e o menos do mais?
Ora! Se eu tentar ser não vou mais ser!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

À Solidão saudável! Há solidão saudável.


Solidão
Faz tempo que eu não te vejo
Quem sabe um encontro nos convém?
Pra te falar de todos meus segredos
Que não divido com ninguém.

Com você tem que ser passageiro
Para a afinidade não ficar
Triste seria eu perder quem tenho,
porque você quis me trancar.

Só quero um tempo, não mais que muito, pra não te perder
Espera a casa ficar vazia para vir me ver
Depois vai embora, sai já daqui
E demora pra voltar
Daqui a um tempo talvez te ligue pra me visitar.

Tão bom quando nos reencontramos
Você sempre age com razão
Oh minha amiga nunca me abandone
Minhas desculpas solidão.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

NÃO


Não se esquecer do seu fecundo
Não cessar a mente
Não temperar a cuca com farinha
Não masturbar idéias todo dia
Não precisar sempre daquelas pessoas
Não tirar aquelas da cabeça
Não esquecer compromissos
Não brincar com promessas
Não zombar de crenças
Não brincar na despensa
Não fazer o que é errado para você
Não fazer o que é certo para o errado.


Foto: Caligrafia | Pé - Arnaldo Antunes

sábado, 5 de dezembro de 2009

Bojo



Tem que ter imenso bucho
Pra caber a paciência
Para ter perseverança
nas tempestades que vem por aí

Tem que ter samba no pé
E tantos ritmos quanto quiser
Remexer conforme a dança, sabendo se situar
Senão o amor

Do bojo que nem bolo
Duodeno – jejuno - íleo
Se seco passa do ceco: arrepio.

Vale engolir o sapo
Aparentando até não se importar
E com jogo de cintura, vá berrar bem longe do seu par
Senão o amor...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Necessidade

Olha lá quem vai passando!
A necessidade de alguém!
Passou de baixo do meu nariz
Mas minha boca não fala por ninguém

E se rolar dimdim, ajudar o quê que tem?
Necessidade nasça em mim também!

Veja bem no meu contrato de ajudante termo 34, 35 e 36
É necessário que eu seja alimentado pro teu problema ser meu problema outra vez
Ou então eu olho só acima da minha testa e meu protesto é que teu verbo fale mais em verba
Molhando um na minha mão o teu problema é solução,
quem disse que necessidade não pega, não?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A Igraja - emQuadrinhos



A Igreja

Um barco na areia,
um mensageiro invisível.
Minha vista da beira,
e a do arcanjo esquecido.

A Borboleta e a Felicidade

Ovo.
Imaturo, inocente
dentro de um corpo
espero metamorfóse

Larva.
Imaturo, inocente e impaciente
me alimento por osmose de pseudo felicidades sem saber da minha felicidade.
Ninguém sabe o que é, mas pensa que sabe
assim como eu na maioridade.

Pupa.
É certo que ainda somos insetos
exceto pelas setas que já tem um alvo.
São muitos insetos desorientados atrapalhando a meta. Meto-me na minha meta:
Felicidade.

Imago.
Vôo leve e vou longe de levianos.
Vou leve e vôo longe de levianos.
Paz de espírito! Desvio dos erros certos e dos falsos eros.
E a felicidade está em meus atos de agrado a outros imagos que me agradam também.Tão bem estou!
Minha felicidade é a paz de voar em paz.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Vovô(ou)


Será que eu Vovô, vou virar mergulhador?
Eu acho que eu vovô, vou me afogar
Tanta mudança vai pintar por aí
e se eu pinto, também um dia vou cair

Vou cair, vou boiar
viver o consumo exagerado enquanto tudo é liquidado até derreter
E eu vovô-ou me afogar

Eu vovô, eu vovou me afogar
Eu vovô, eu vovou me afogar
Eu vovô, eu vovou me afogar.

Baía


E tem diversidade tem
na Baía de Guanabara
derivada da miscigenação dos dejetos jogados n'água
E tanto peixe tem
na Baía de Guanabara
peixe-vidro, peixe-esgoto, peixe-óleo, peixe-peixe e peixe-borracha

Tanto lixo. Tanto bicho nada
Tanto bicho. Tanto lixo e nada

Nada nada limpo lá na água,
nenhum peixe desses nada nada.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Teto

Como poderei julgar qual sentido me importa mais?

Se da boca sai o que vi das coisas,
Se das coisas ouvi um texto da boca do outro
E se da boca do outro sai um bafo que poderia ser meu desabafo?
Por vezes meu texto é carregado de tato no teto da dúvida.

Sinta o gosto de cada garfada!



Gosto do gosto do gosto

Não preciso ver
Não quero sentir
Ter que devorar água na boca
Empanzinando uma impressão.

Se precisa ser
Ter sem condizer
depois de mastigar
acaba meu tesão.

Preciso degustar,
como o grande amor,
sentir o gosto bom
de cada paladar!
Gosto do gosto do gosto.

domingo, 29 de novembro de 2009

Brasa

Composição: Gabriel O Pensador/Lenine


Um poeta já falou, vendo o homem e seu caminho:
"o lar do passarinho é o ar, e não o ninho".
E eu voei... Eu passei um tempo fora, eu passei um tempo longe.
Não importa quanto tempo, não importa onde.
Num lugar mais frio, ou mais quente de repente, onde a gente é esquisita, um lugar diferente.
Outra língua, outra cultura, outra moeda.
É, vida dura mas eu sou duro na queda.
Se me derrubar... eu me levanto, e fui aos trancos e barrancos, trampo atrás de trampo, trabalhando pra pagar a pensão e superar a tensão do pesadelo da imigração.
Clandestino, imigrante, maltrapilho.
Mais um subdesenvolvido que escolheu o exílio, procurando a sua chance de fazer algum dinheiro, no primeiro mundo com saudade do terceiro.
Família, amigos, meus velhos, meu mano - o meu pequeno mundo em segundo plano.
Eu forcei alguns sorrisos e algumas amizades.
Passei um tempo mal, morrendo de saudade.
Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade.
Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade...
Da beleza poluída, da favela iluminada, do tempero da comida, do som da batucada.
Da cultura, da mistura, da estrutura precária.
Da farofa, do pãozinho e da loucura diária.
Do churrasco de domingo, o rateio e o fiado, a criança ali dormindo, o coroa aposentado.
Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade...
Da mulata oferecida, do pagode malfeito, de torcer na arquibancada pro meu time do peito.
A pelada sagrada com a rapaziada, o sorriso desdentado na rodinha de piada.
Da malandragem, da nossa malícia, da batida de limão, da gelada que delícia!
Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade...
Do jornal lá na banca, da notícia pra ler, das garotas dos programas da TV.
Do jeitinho, do improviso, da bagunça geral.
Do calor humano, do fundo de quintal.
Do clima, da rima, da festa feita à toa - típica mania de levar tudo na boa - do contato, do mato, do cheiro e da cor.
E do nosso jeito de fazer amor.

Agora eu sou poeta, vendo o homem a caminhar:
o lar do passarinho é o ninho, e não o ar.
E eu voltei. E eu passei um tempo bem, depois do meu retorno.
Eu e minha gente, coração mais quente, refeição no forno.
Água no feijão, tô na área, bichinho.
Se me derrubar... eu não tô mais sozinho.
Tô de volta sim senhor.
Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor.
Mas o amor é cego.
Devo admitir, devo e não nego, que aos poucos fui caindo na real, vendo como o Brasa tava em brasa, tava mal.
Vendo a minha terra assim em guerra, o meu país... não dá, não dá pra ser feliz.
E bate uma revolta, e bate uma deprê.
E bate a frustração, e bate o coração pra não morrer.
Mas bate assim cabreiro.
Bate no escuro, sem esperança no futuro, bate o desespero.
Bate inseguro, no terceiro mundo, se for, com saudade do primeiro.
Os velhos, os filhos, os manos - ninguém aqui em casa tem direito a fazer planos.
Eu forcei alguns sorrisos e lágrimas risonhas.
Passei um tempo mal, morrendo de vergonha.
Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha.
Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha...
Da beleza poluída, da favela iluminada, da falta de comida pra quem não tem nada.
Da postura, da usura, da tortura diária.
Da cela especial, da estrutura carcerária.
A chacina de domingo, o rateio e o fiado, a criança ali pedindo, o coroa acorrentado.
Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha...
Da mulata oferecida, do pagode malfeito.
Morrer na arquibancada pro meu time do peito.
O salário suado que não serve pra nada, o sorriso desdentado na rodinha de piada.
Da malandragem, da nossa milícia, da batida da PM, porrada da polícia.
Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha...
Do jornal lá na banca, da notícia pra ler, das garotas de programa dos programas da TV.
Do jeitinho, do improviso, da bagunça geral, do sorriso mentiroso na campanha eleitoral.
Do clima de festa, da festa feita à toa - ridícula mania de levar tudo na boa - do contato, do mato, do cheiro da carniça.
E do nosso, jeito de fazer justiça.
Mas eu vou ficar no Brasa porque o Brasa é minha casa, casa do meu coração.
Mas eu vou ficar no Brasa porque o Brasa é minha casa e a minha casa só precisa de uma boa arrumação.
Muita água e sabão.
Ensaboa, meu irmão.
Não se suja não.
Indignação.
Manifestação.
Mais informação.
Conscientização.
Comunicação.
Com toda razão.
Participação.
No voto e na pressão.
Reivindicação.
Reformulação.
Água e sabão na nossa nação.
Água e sabão, tá na nossa mão.
Tô morrendo de paixão, tô morrendo de paixão...

sábado, 28 de novembro de 2009

Sobre O Belo



Sobre o que eu li
tentei sentir o belo nas coisas que eu toquei, cheirei ou digeri
mas o belo não está lá

Só está em curvas de proporção limitada e medidas inventadas
Quando escuto uma bela voz, penso:
Quem compõe o corpo é tão belo quanto o que eu ouço?

O que eu vejo eu creio, porque nasci no meio
O que escuto eu quero ver, porque preciso crer.

Sobre o que eu vi
Tentei rever o fato que parei pra refletir
mas o belo sempre está lá

Nos traços do desenho o desejo
Um laço é o nó que eu almejo
O conceito da beleza é o que eu vejo
E o belo eu não sei onde está.


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Espectadores


Projéteis disparados de cima pra baixo
de baixo pra cima
Sempre atingem um corpo terrestre, que é enterrado no chão.
Projéteis disparados entre cumes e cantos,
como?!
Sei não!
Quem está por dentro ou por fora, só olha pro alto, e pede proteção.

E ainda dizemos que vamos pro céu, hein meu irmão?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Garoto




Garoto queria ser piloto, mas virou aviãozinho.
Largou o ensino público primitivo e precário no seu país.
Cansou de ser tratado como bicho, por bichos iguais a ele.
Garoto foi tentar voar mais alto pra deixar de ser infeliz.

Que moleque festeiro! Soltava fogos todo dia!
Quando via um gato preto ou quando chegava mercadoria
ganhou destaque com o chefe por seus olhos de gavião
garoto, guerreiro agora, decolou na profissão
garoto, guerreira agora, decolou de posição

Vai ganhar tutu,
dando tum, tum, tum
Vai ganhar tutu, tum, tum, tum, tum, tum, tum.

Que disposição que esse cria tem! Já é frente do bonde.
Mete a cara contra os “alemão” e dos homi ele não se esconde
No perigo da contenção ele se mantém
Concentrado, com a mira no seu alvo, que pela viela vem.

Em um passado-presente o futuro é esperado
de confrontos sem fim e gatilhos descontrolados
um polígono irregular e um grupo de cada lado
E afinal, quem tá mais certo quem tá mais errado?
Garoto queria ser piloto, mas virou aviãozinho. Garoto morreu voando mas não foi pro céu.

foto: OutNow! Image Gallery
Última Parada 174, Bruno Barreto, 2008