Ah...! Eu nunca tive vergonha de papel!
Nunca tive vergonha de um pedaço de papel.
Tampouco vergonha da vergonha passada!
Mais vale moer um papelão até virar lembrança
do que recorda-lo como desonra.
O azedume foi meu acanhamento,
O agridoce é minha lembrança,
E o doce - ainda acre - será uma bela de uma experiência,
quando adocicar de vez.
Ah! O papel!
Precisava do papel. Não tinha o tal papel.
Passei um papelão por um papelzinho.
Papelzinho cheio de valor!
Cheio de títulos, autoridade e mérito.
Tanto temor, que tive de rogar por ele como se fosse um Deus.
-Deus! Por que me envergonhas?
-Foi só uma carteira esquecida!
Tive que pedir.
Uma nota de vinte
que carrega o desenho do mico detrás,
pagou minha liberdade envergonhada!
Paguei mico segurando o próprio mico na mão
ou melhor, não paguei, recebi o mico.
Oh Cédula celeste!
Um pedacinho de papel.